Há uma canção que anda a passar repetidamente nas rádios em
Portugal chamada “Anda comigo ver os aviões”, dos Azeitonas. A melodia em si é
bonita, gosto dela mas, lamento, a letra é fraquinha. Dito isto, sei que me
estou a habilitar a levar com uma carrada de mensagens odiosas de todos aqueles
que, uhhhh uhhhhh, deliram com a música.
Começa logo com o título. Anda comigo ver os aviões?!? Mas
qu’é isto?? Se fosse uma canção infantil da Rua Sésamo estaria bem. Anda comigo
ver os aviões está ao mesmo nível do “vamos aprender a contar” ou “vamos
aprender o a, b, c”. Até os Marretas conseguem melhores títulos, como o “Manaaaah
Manaaaah”.
Mas a letra, de infantil, tem mesmo só o título, porque toda
ela é, na realidade, caracterizada por duas coisas: a morte e a parolice.
Ir ver aviões a levantar vôo a título de actividade
romântica, no aeroporto ou junto ao gradeamento das pistas, é parolinho. Qual é
o romantismo da coisa? “Ah, que bonito, olha o avião a levantar vôo”. Não cola.
Ir ao porto de leixões ver os navios a levantar ferro?? Que
navios, aqueles cargueiros cheios de contentores? Também parolinho. Já que
estão na zona de Matosinhos e Leça da Palmeira há sítios bem melhores para ir.
Estar nessa zona e ir ver navios ao porto de leixões como programa romântico é
o mesmo que estar em Roma e ir, com a namorada, ver o trânsito nas principais
avenidas. Ui, espera lá! Mas esse é o 3º programa romântico proposto na letra:
ver os automóveis na avenida. Comprova-se aqui que a letra fala de um broeiro
em potência. Ir ver aviões, navios no Porto de leixões e carros a passar...para
um par de namorados é parolo, para um grupo de idosos é um bom programa de Domingo.
Há ainda um quarto e quinto programa, mas que já entra no
reino da fantasia. Ir ver foguetões a levantar vôo e ir até à Lua. Se calhar
por isso é que a letra fala de levar a mulher até à América ou a América até
ela (dentro do mesmo estilo bíblico da montanha ir até Moisés), mas por mais
chique que possa parecer, ir ver foguetões consegue ser tão parolo quanto o
resto. Não é a tecnologia de ponta que lhe tira a parolice. E ir até à Lua pode
não ser parolo mas é algo, para já, reservado a profissionais.
O resto da letra, além da parolice, fala muito da morte. É
dito 5 vezes o “que eu morra aqui” e parece-me que o rapaz está a pôr-se a
jeito para isso. Ele que morra ali se não levar a mulher à América e à Lua, ganhar
a lotaria, ganhar o totobola...e o euromilhões, não? É que já que é para morrer
ali, então que seja pelo euromilhões, ao menos o prémio é bem maior que o da
lotaria ou totobola. Ao menos morreria por 15 milhões de euros (mínimo) e não
por uns meros milhares de euros.
É triste uma melodia tão bonitinha com uma letra tão parolinha.
Está entre o pimba (uma melodia horrível com letra parola) e o Rui Veloso (uma
melodia bonita e letra igualmente bonita). Os Azeitonas conseguem iniciar-se
nesta nova categoria no meio termo. Os GNR já tinham lá andado perto, a
diferença é que as letras não eram parolas, eram só um tanto incompreensíveis.
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